segunda-feira, 26 de março de 2012

CAFÉ COM CINEMA dia 31 de Março 2012 - às 20h




Estamos reiniciando as atividades da Pastoral da Diversidade Sexual neste ano de 2012.
No dia 31 de março faremos nosso primeiro Café com Cinema.
O tema será: "Liberação Sexual e Repressão Religiosa"
O filme que iremos assistir será "O Padre", do original "Priest", da diretora Antonia Bird, lançado em 1994.
Venha participar conosco! A entrada é franca. Traga algum lanche e bebida para compartilhar.

Mudamos o endereço da realização dos eventos da Pastoral da Diversidade Sexual.
Este Café com Cinema será realizado no CENTRO DE REFERÊNCIA ESTADUAL DA IGUALDADE, na Avenida Goiás, n. 1496, Setor Central, abaixo da São Jorge Materiais de Construção (em frente à Igreja Universal).
Horário: 20 hs.
Data: 31/mar/2012, sábado.




author: Aurelio de Melo Barbosa

sábado, 24 de março de 2012

Por Larry Hurtado

Tradução livre:

Uma afirmação central nos Credos Cristãos Tradicionais é que Jesus foi crucificado “sob Pôncio Pilatos". Mas a maioria dos cristãos tem somente um sentido vago do que a frase representa, e a maioria dos não-cristãos, provavelmente, não conseguem imaginar porque é uma parte tão integral da fé cristã. "Crucificado sob Pôncio Pilatos" proporciona à história de Jesus sua mais óbvia ligação com a ampla história humana. Pilatos era uma figura histórica, o procurador romano da Judéia; ele foi referido em outras fontes da época e ainda mencionado em uma inscrição encontrada no local da antiga Cesaréia em Israel. A ligação da morte de Jesus com Pilatos representa a insistência de que Jesus era uma pessoa real, não apenas uma figura de mito ou lenda. Mais do que isso, a frase também comunica de forma concisa algumas especificidades muito importantes deste evento histórico.

Por um lado, a declaração afirma que Jesus não se morreu simplesmente; ele foi morto. Esta foi a morte de um jovem na dor e humilhação pública, não um fim pacífico para uma vida longa. Também, essa não foi uma ação de uma turbe. É dito que Jesus fora Jesus executado, não linchado, e pela autoridade governamental romana devidamente nomeada da Judéia. Houve uma audiência de algum tipo, e os oficiais responsáveis pela ordem civil e pela paz e justiça romana condenaram Jesus. Isto significa que Pilatos encontrara algo muito grave que justificasse a pena de morte.

Mas este foi também um tipo especial de pena de morte. Os romanos tinham uma variedade de meios para realizar uma execução judicial, alguns, tais como a decapitação, eram mais rápidos e menos dolorosos do que a crucificação. Morte por crucificação era reservada para crimes e classes particulares. Aqueles com adequada cidadania romana deveriam ser imunes à crucificação, embora pudessem ser executados por outros meios. A crucificação era considerada em geral como não só assustadoramente dolorosa, mas também a mais vergonhosa das mortes. Essencialmente, foi reservada para aqueles que eram percebidos como levantando suas mãos contra o domínio romano, ou aqueles que de alguma outra forma pareciam desafiar a ordem social - por exemplo, os escravos que atacavam seus senhores, insurretos, como os judeus crucificados pelo general romano Vespasiano, na rebelião judaica de 66-72.

Assim, o crime mais provável pelo qual Jesus foi crucificado é refletido nos relatos dos Evangelhos na acusação colocada à cruz de Jesus: "Rei dos Judeus". Ou seja, ou o próprio Jesus afirmou ser o Messias Real Judaico, ou seus seguidores manifestaram esta reivindicação. Isso lhe obteria a crucificação pelos romanos.

Com efeito, um critério que deve ser aplicado mais rigorosamente nas modernas propostas acadêmicas sobre o "Jesus histórico" é o que poderíamos chamar de a condição de “crucificabilidade": Você deve produzir uma imagem de Jesus que dê conta dele ser crucificado. Estimulando as pessoas a serem como “um” umas para as outras, ou advogando uma interpretação mais flexível da lei judaica, ou mesmo condenando o Templo e os seus dirigentes, nenhum desses crimes é provável que levasse à crucificação. Por exemplo, o historiador judaico do primeiro século, Flávio Josefo, fala de um homem que profetizou contra o Templo. Ao invés de condená-lo, o governador decidiu que ele era inofensivo, embora um tanto desequilibrado e irritante aos sacerdotes do Templo. Então, depois de ser flagelado, ele foi liberado.

A alegação de messias-real, portanto, ajudar a explicar por que Jesus foi executado, mas seus seguidores não. Estes não eram uma célula de conspiradores. O próprio Jesus era o problema. Além disso, Pilatos recebera alguma oposição séria por ser um pouco violento demais na sua resposta aos judeus e samaritanos que simplesmente se demonstrassem vigorosamente contra suas políticas. Pilatos provavelmente decidira que publicamente executando Jesus o entusiasmo messiânico de seus seguidores iria expirar sem afligir os órgãos judaicos mais do que o necessário.

Naturalmente, os Evangelhos igualmente implicam autoridades religiosas judaicas - especificamente, os líderes sacerdotais, que administravam o Templo de Jerusalém sob concessão do governo romano. Muitos estudiosos, incluindo E. P. Sanders em “Jesus e o Judaísmo”, concluíram que os líderes do templo estiveram provavelmente envolvidos em Jesus chamando a atenção de Pilatos. Afinal, o sumo sacerdote e seus séquitos mantinham seus discursos através da demonstração de lealdade contínua a Roma. Se eles julgaram que Jesus representava uma ameaça para o domínio romano, eles eram obrigados a denunciá-lo. Portanto, não é tão difícil conceder uma certa probabilidade para a afirmativa dos Evangelhos de que as autoridades do Templo eram, pelo menos em parte, motivadas por um ressentimento da crítica de Jesus da sua administração do Templo, como pode ser refletido nos relatos de Jesus capotando as mesas dos cambistas que operavam nas instalações sob licença do sumo sacerdote. Mas os líderes judeus não crucificaram Jesus. "Crucificado sob Pôncio Pilatos" aponta para onde esta responsabilidade cabe, com a administração romana.

É bastante claro o que São Paulo quis dizer ao afirmar que "a pregação da cruz é loucura" para a maioria das pessoas de sua época. Como Martin Hengel mostrou em “Crucificação no Mundo Antigo e a Insensatez da Mensagem da Cruz”, os escritores romanos da época consideravam a crucificação o pior destino imaginável, uma punição de vergonha inominável. Celso, um crítico romano do cristianismo, ridicularizou os cristãos por tratar como divino alguém que tinha sido crucificado. Um grafite anti-cristão do segundo século de Roma, bem conhecido entre os historiadores que estudam o período, mostra um homem crucificado grosseiramente elaborado, com uma cabeça de burro, em que está uma figura humana, e sob este um escárnio rabiscado: "Alexamenos adora o seu Deus" [Alexamenos sebetai ton theon].

Havia, em suma, pouco a ganhar na proclamação de um Salvador crucificado nesse cenário em que a crucificação era uma realidade terrível. Alguns cristãos tentaram evitar a referência à crucificação de Jesus, enquanto outros preferiram um ou outro cenário alternativo. Em uma versão, em um texto cristão apócrifo, os soldados confundiram um observador com Jesus, crucificando-o em vez disso, enquanto Jesus é retratado como rindo de sua insensatez. Esta idéia é também provavelmente refletida mais tarde na tradição muçulmana em que uma pessoa da multidão foi erroneamente crucificada enquanto Jesus escapou. Muitos muçulmanos devotos acreditam que Jesus fora um profeta verdadeiro, então é simplesmente inconcebível que Deus tivesse permitido que ele morresse uma morte vergonhosa. É evidente que, pelo menos alguns dos primeiros cristãos se sentiram da mesma maneira.

De fato, a crucificação de Jesus representava um amálgama de problemas potenciais para os primeiros cristãos. Isso significava que, na origem e no coração de sua fé havia uma execução de estado e que seu reverenciado salvador tinha sido julgado e considerado culpado por um representante da autoridade imperial romana. Isso provavelmente fez um com que uma boa quantia de pessoas se questionarem se os cristãos não eram algum movimento seriamente subversivo. Foi, pelo menos, não o tipo de grupo a que prontamente recorreriam aqueles que zelassem por sua posição social.

A crucificação de Jesus representou uma colisão entre Jesus e a autoridade governamental romana, uma óbvia de responsabilidade para os esforços cristãos para promover sua fé. No entanto, curiosamente, de alguma forma eles conseguiram. Séculos de tradição cristã subseqüente têm feito a imagem do Jesus crucificado tão familiar que a ofensividade do evento que retrata foi quase completamente perdida.

domingo, 18 de março de 2012

Dica de Leitura - Um Cientista Lê a Bíblia

"Um Cientista Lê a Bíblia" -  Edições Loyola. São meditações para cada dia da Quaresma, com inspirações que dialogam a fé cristã com a ciência, aplicando à vida pessoal com uma linguagem singela e marcadamente pessoal.

Do Cientista e Reverendo anglicano aposentado, John Polkinghorne.

Aqui vocês podem encontrar uma boa resenha do livro.

Meditação para a Quaresma: Alma Tentada

Como estreia em nosso espaço, aproveitando o período em que vivemos no Calendário Litúrgico, compartilho uma meditação publicada no blog "Cristianismo, meramente".



Meditação para a Quaresma: Alma Tentada



Como já comentamos aqui no “Cristianismo, meramente”, nas narrativas das origens em Gênesis, se busca situar a experiência de fé e o decorrente vislumbre de mundo experimentado com as experiências com Deus, relacionando-a com a condição humana e daí, com como se chegou à atual condição das coisas a partir do panorama descortinado pela fé. Todo um caldo cultural circundante, de tradições de origens, sobre criação do mundo pela batalha dos deuses, capricho dos deuses, necessidade do apetite ou xiste dos deuses, e assim também com a criação da humanidade, e a amizade/inimizade com certos deuses, foi reinterpretado a partir da visão de mundo completamente reorientada pelas experiências com o Deus Supremo de caráter distinto, e o relacionamento especial com Ele, e o maravilhar-se com um cenário ofuscante de que Ele tinha um plano para a História.

E assim é com a narrativa hoje conhecida como a “narrativa da Queda”. Um ser humano colocado para ser quase que co-regente de Deus em Seu mundo, plasmando interativamente com ele- o mundo - uma experiência de jardim, para crescer em sabedoria, aprendizado, acaba tendo uma nova orientação, uma desorientação, por ceder a pior das depravações, que é o ápice da idolatria - transformar Deus em ídolo. Pois foi este o retrato que fizeram de Deus, a imagem que fundiram dEle, equivocadamente, quando pensaram em “ser como Ele”. Pois da forma que os personagens imaginaram que seriam “como Deus”, fica nítido que não era a forma que Deus se apresentava. Vindo, em Sua grandeza, humildemente passear com eles e ter prosas coloquiais, um relacionamento carregado de singeleza e ternura. Deus não era o Dominador Tirânico e sedento de poder a que eles buscaram se tornar.

Foi por aí que na verdade o tiro saiu pela culatra. Ao invés de ser como Deus, se alienaram dEle, de si mesmos, da criação.

Na experiência visionária de Jesus no deserto, podemos ver como seria Ele quem reverteria esta Queda, tendo sido tentado no mesmo sentido: transformar Deus em ídolo.

Jesus vulnerabilizado, com fome, no deserto. Não saciado, num jardim de delícias.

Se ele era o Filho de Deus, então esse relacionamento especial tinha de se mostrar real com as necessidades satisfeitas, atendidas, uma relação instrumental; tinha que haver a demonstração de poder submetedor. Como é hoje em grande parte das buscas de Deus que vemos, nas igrejas e fora delas.

Outro dia uma pessoa veio me falar sobre ela não crer em Deus. Me disse algo assim: “se você está desempregado, procurando emprego, é você que tem que se virar; você tem que conseguir emprego. Não tem Deus lá não, é você! Não é Deus que vai criar empregos.

A questão aí é que é como se fosse um reflexo especular da fé imatura; a descrença imatura. Pois ambas vêem a mesma coisa: pra se ter relação com Deus, todas as necessidades teriam de ter imediata satisfação, e nossas responsabilidades, dramas, lutas, sumiriam; uns acreditam que é isso a fé, e relacionam-se com a fé assim, se auto-iludindo, e ao invés de Deus, possuem um ídolo do lar pra suas barganhas mágicas. Outros não acreditam que tal possa ser feito, e assim se despem da fé.

Ambos querem um ídolo. Uns acreditam na possibilidade de tal relação, outros não. E nenhum quer Deus. Experimentar arrebatadoramente e se acercar totalmente das energias de Deus.
Saltar do Templo. Fazer seus caprichos, que Deus correrá atrás. Ele terá que dar ordens aos anjos, porque você é Deus também, os anjos têm que te servir. Você não poderá tropeçar em nenhuma pedra. Hoje, podemos gozar e usufruir de bens e consumos que para gerações passadas eram inimagináveis. Queremos e sentimos que temos todo o direito, e todo o cosmos tem o dever de nos servir para aproveitarmos ao máximo. Se houver algum espaço para relacionarmos com Deus, tem que ser nestes termos e condições. Nada de atrapalhar esta realização de caprichos, antes, deve ser um instrumento de mais; deus de auto-ajuda, de mimo.

Depois, a tentação máxima da idolatria. Romper todos os escrúpulos em prol do sucesso, do que se imagina a plena conquista do sucesso e realização do ego. Poder sem limites. Estar no topo. Ser um astro. E que tudo se curve, e que todos os escrúpulos se curvem. E não percebe-se que na verdade, é a pessoa a se curvar, e dar o que não é seu. E perder tudo. E não aproveitar nada, na realidade, porque nem ela é mais de si mesma. Outro está a se esbaldar nela. Ela se alienou por completo.

Ao Senhor teu Deus adorarás,
e a Ele só prestarás culto.

Como se diz na oração comunal anglicana, Deus, a quem servir é a verdadeira liberdade. Com a vitória de Jesus sobre a tentação, se diz que o demônio foi embora, e aí os anjos de Deus puderam se aproximar e cuidar dele.

Como na paráfrase da poesia “Operário em Construção”, de Vinícius de Moraes:

Sentindo que a violência
Nao dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Sera' teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.


Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!


- Loucura! - gritou o patrão
Nao ves o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Nao podes dar-me o que é meu.